Parte 2 | Como andam as investigações do assassinato de Zezinho?

Caso segue em sigilo de justiça depois de um ano. Cidade de Jandira, movimentos sociais, colegas de partido e familiares pressionam por avanço nas investigações.

No último dia 26 de outubro membros do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ALESP, realizaram um ato em memória de Reginaldo Camilo dos Santos, o Zezinho. A iniciativa também é parte do esforço de pressionar as autoridades do Estado por resultados e maior prioridade nas investigações.

Desde novembro de 2022, parlamentares petistas têm acompanhado os trabalhos de apuração e cobrado maior compromisso dos agentes públicos com a solução do assassinato do ex-vereador e liderança popular de Jandira.

No início de 2022, um pedido da bancada do PT para o Ministério Público resultou na transferência da responsabilidade do caso para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa – DHPP, após decisão do Procurador Geral de Justiça que acolheu os argumentos.

Em setembro desse ano, o deputado estadual Maurici (PT) enviou requerimento de informações sobre o andamento dos trabalhos à Secretaria de Segurança Pública. Como resposta, em 24 de outubro o DHPP designou o delegado Marco Antônio Desgualdo para se reunir com parlamentares, familiares e advogados.

No encontro, Desgualdo afirmou que entre as linhas iniciais de investigação, uma evoluiu e ganhou força. Porém, ainda é necessário encontrar e anexar elementos comprobatórios ou indícios consistentes e avançar para uma nova etapa de indiciamentos, abertura de processo e futuro julgamento.

Na mesma reunião o delegado da Polícia Civil afirmou acreditar estarem bem próximos de uma solução do crime. Essa informação cria uma pequena faísca de esperanças entre amigos, familiares e integrantes do PT, ainda que os primeiros meses das apurações tenham sido pouco animadores e apesar do histórico em relação a crimes políticos contra lideranças populares no Brasil não ser animador.

De todo modo, há um entendimento comum entre todas as pessoas que o Linha 8 escutou sobre uma mudança de qualidade na apuração com a ida do caso para o DHPP.

Simão Pedro, deputado estadual petista e pessoa próxima de Zezinho afirmou em discurso na tribuna do parlamento que “infelizmente a violência política tomou conta de Jandira e a Polícia Militar se retirou da cidade. Quero conclamar o secretário de segurança pública para que a PM volte a fazer seu trabalho de segurança da população na região. Nós ainda estamos chocados com mais esse crime brutal, de natureza política.”

As investigações acontecem em sigilo de justiça. Mas quem acompanha o caso e conhece a realidade política local insiste que, a suspeita principal – de crime político -, precisa ser aprofundada.

Zezinho seguia sendo a principal voz política na cidade de Jandira. Estava em atrito permanente com a Prefeitura, inclusive fazendo denúncias que em alguns casos avançaram na Justiça. Por exemplo, dias antes de seu assassinato, os bens do Prefeito, do Vice e do secretário de obras da cidade foram bloqueados por decisão judicial, após acusação do Ministério Público por fraude em licitação.

Líder de fato da oposição, Zezinho, havia levado a denúncia ao MP-SP e cobrava explicações da gestão pela contratação em regime de urgência de cestas básicas para os servidores municipais. A gasto da prefeitura foi de 627 mil reais e o dono da empresa beneficiada, Mauricio Celestino, foi nomeado Secretário de Obras dias após a assinatura do contrato, no final de 2021.

Emídio de Souza, deputado estadual do PT de Osasco em discurso na ALESP disse, “quando eu olho para o caso do Zezinho eu lembro da Marielle Franco. Será uma luta difícil, mas nós não podemos esmorecer enquanto não for descoberto quem matou, quem mandou matar e as razões.”

Jandira teve nos últimos 40 anos diversos crimes com conotação política. A lista inclui 1 ex-prefeito, 1 prefeito em exercício, 1 vereador, 2 pré candidatos a prefeitura, 2 ex-vereadores, suplentes do legislativo, funcionários do executivo, além de fiscais, policiais e agentes de justiça.

O deputado Maurici que desde o início tem acompanhado o processo, afirmou para o Linha 8 que “ainda temos esperança que a justiça prevaleça. Há pouca dúvida que é um crime político, e parece ser a linha mais correta para a investigação. Um crime dessa natureza tem várias dimensões, e o Zezinho tinha uma atividade muita intensa, que pode ter ferido distintos interesses na cidade.” E prossegue: “precisamos seguir pressionando, mobilizando a região, a sociedade e cobrando a mais rápida e possível apuração da morte dessa importante liderança popular.”

A expectativa é que novidades apresentadas por esse período de investigação que resultem em indiciamentos e informações sobre as razões desse crime político tragam o fôlego necessário para o caso não entrar na longa lista da injustiça e dos casos arquivados.

Com a palavra, a Polícia Civil do Estado de São Paulo.

Essa é a segunda reportagem do Especial Linha 8 | Um sonho interrompido.
Nos próximos dias seguiremos com matérias sobre a história de Zezinho, a militância no movimento estudantil, a atuação como vereador e depoimentos de amigos e familiares.
Divulgue e continue acompanhando.