Mussum está voltandis

Após ser aclamado no Festival de Gramado, filme tem o desafio de conquistar as telas de cinema e ajudar na retomada do setor.

Texto: Ramon Szermeta

Está prevista para novembro de 2023 a estreia nos cinemas do novo filme que conta a história de Mussum. Ailton Graça assumiu o desafio de interpretar o personagem principal da história que aborda as várias facetas de Mussum, nem sempre tão óbvias para todas as gerações. Quem já viu as primeiras exibições afirma que a produção tem tudo para cair no gosto do grande público.

Antônio Carlos Bernardes Gomes morreu em 1994 aos 53 anos e por ele cruzam as histórias do samba e da televisão. O passar do tempo foi deixando mais evidente a importância de Mussum na história da cultura brasileira, mas não bastasse isso, sua imagem seguiu crescendo mesmo depois de sua morte e se tornou um ícone popular brasileiro, símbolo da nossa identidade nacional. Hoje a sua presença é notória em camisetas, em memes, em piadas e sacadas satíricas que realçam a linguagem simples e de rua que e caiu como uma luva nos formatos mais contemporâneos de comunicação. Já dizia Adorniram Barbosa que existe o jeito certo de falar errado. Confrontado como a maioria do país com o impiedoso estrangeirismo do nosso cotidiano ele criou o forevis que chegou até o Obamis entre outras expressões inconfundíveis, como o cacildis. O nosso ‘Mé’ de cada dia também não existiria sem ele, expressão que usava para gíria de cachaça com mel. Mussum ajudou a criar um dos mais importantes grupos de samba que navegava com facilidade entre o samba, o pagode e o samba rock. Os Originais do Samba gravaram mais de dez discos e deixaram muitas pérolas para a música brasileira. Mas foi o quarteto ‘Os trapalhões’ que deixou Mussum famoso ao ocupar o horário nobre da Rede Globo com o mais popular programa de entretenimento do país nos anos 70 e 80.

Ele era uma das poucas presenças negras na TV brasileira da época. A forma como o personagem foi retratado e encarado é até os dias atuais objeto de debates no contexto das relações sociais racistas do país e de uma recorrente abordagem da população negra e periférica marcada por simplificações e estigmatizações preconceituosas. Hoje temos livros, biografias e documentários que contam essa história, mas faltava a produção cinematográfica para coroar a memória de Mussum. O cinema nacional segue com dificuldades após a pandemia que deixou as salas vazias e ainda sofre as consequências da falta de políticas culturais durante o nebuloso período dos governos Temer e Bolsonaro. Esse contexto de reerguimento do cinema e das políticas culturais traz ainda mais expectativas com ‘Mussum, o filmis’.

A produção carrega um desejo difuso no setor de ajudar na repactuação entre as bilheterias e os filmes nacionais. Para termos uma pequena ideia do drama atual, em 2022 os filmes brasileiros representaram cerca de 4% das vendas de ingressos enquanto no primeiro semestre de 2023 esse número caiu ainda mais chegando em 1%, um dos piores resultados em décadas. (1) Se levarmos em conta a recepção que recebeu no tradicional Festival de Gramado ocorrido em agosto de 2023 as esperanças podem sim se elevar.

“Mussum” foi destaque nas premiações vencendo em sete categorias, inclusive melhor filme e melhor ator. Caso tenha o destaque esperado nas bilheterias, pode ajudar o cinema nacional a fechar o ano com números melhores, colaborando para a retomada de expectativas positivas na produção brasileira em 2024, e ‘forevis’.

Saiba mais

Em 2019 foi lançado o documentário ‘Mussum, Um Filme do Cacildis’, dirigido por Susanna Lira que atualmente está disponível para alugar ou comprar no youtube. Em 2014 Juliano Barreto lançou o livro ‘Mussum Forévis’ que ganhou uma nova edição agora em 2023 na esteira do lançamento do filme.

Referências. (1) https://opopular.com.br/magazine/filmes-nacionais-s-o-so-1-dos-ingressos-vendidos-nos-cinemas-1.3052936 – cosultado em 22/08/2023

 

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