Julia Custódio | Jornal da USP
Pesquisadores do Museu dos Dinossauros da Faculdade Federal do Triângulo Mineiro, em associação com a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, encontraram três fósseis dentários de dinossauros na formação da Serra da Galga, dentre eles o maior dente de titanossauro do mundo. Os dentes pertencem aos Uberabatitan, grupo de dinossauros herbívoros que viveram no período Cretáceo (há 65 milhões de anos) e andavam pela Peirópolis – sítio paleontológico localizado em Uberaba, Minas Gerais. Esses fósseis ajudam a reconstruir o modo de vida dos animais e a compreender a fauna da região durante o período.
“Nós achamos alguns dentes em diversos pontos da cidade e conseguimos dividir eles em três tipos diferentes de dentes, o que a gente chama de morfótipo”, diz Julian Silva Junior, doutor pelo Laboratório de Paleontologia da FFCLRP. O pesquisador explica que os dentes não são muito diferentes entre si, mas a análise concluiu que eram morfótipos de titanossauros juvenis e um adulto, esse, o maior dente de titanossauro já registrado no mundo.
Os Uberabatitans são da linhagem de dinossauros saurópodes, ou seja, quadrúpedes, herbívoros, com pescoços compridos e caudas longas, com comprimento corporal estimado inferior a 25 metros, o maior dinossauro do Brasil. Na região onde os dentes estavam, até hoje, só foram encontrados fósseis dessa espécie, por isso, o pesquisador acredita que os dentes encontrados sejam desses titanossauros. “Aferimos que esses dentes pertenciam a essa espécie, não porque foram encontrados junto aos crânios ou a outro material, mas porque só tem essa espécie nesta região. Então temos uma certa segurança para falar que eram Uberabatitan.”
O fóssil identificado (veja figura A) é o maior dente de titanossauro encontrado no mundo, com 6,2 centímetros (cm) de comprimento na coroa (parte superior e visível do dente). Até então, o maior morfótipo havia sido registrado em 2013 na Argentina, com 5,6 cm. Os pesquisadores levantaram três hipóteses para explicar a dimensão do maior dente encontrado: o titanossauro poderia ter um tamanho corporal grande, poderia ter uma cabeça grande ou os dentes eram desproporcionalmente grandes ao restante do corpo.
O recorde de maior tamanho desse Uberabatitan se restringe apenas ao dente, já que há fósseis encontrados de outras espécies de titanossauro que superam o comprimento geral do titanossauro brasileiro.
“Tem dois dinossauros grandes famosos, por exemplo, o Argentinosaurus e o Patagotitan, considerados os maiores, em que as estimativas falam que eles passavam de 30 metros de comprimento, só que nenhum desses dois fósseis tem dente, então não tem como comparar no caso do Uberabatitan”, cita o pesquisador. “Pode ser que esses titanossauros tinham dentes maiores ou pode ser que esse Uberabatitan era um indivíduo de metros, mas ele poderia ter dentes proporcionalmente maiores.”
Os outros dois dentes encontrados, de possíveis titanossauros juvenis, possuem 4,38 cm (B) e 2,39 cm (D na imagem). Em geral, os dentes não se encontram bem preservados, com desgaste no esmalte ou partes faltantes.
A partir dos dentes é possível inferir outras características da espécie. “Conseguimos analisar pelas marcas de desgaste dos dentes o tipo de vegetação que esse animal consumia e chegamos à conclusão de que eles comiam algumas plantas mais macias, pois não riscavam tanto os dentes. Por causa das marcas, sabemos que a dieta do juvenil era parecida com a do adulto”, explica Julian Silva Junior.
A Serra da Galga
Há mais de 50 anos são feitas escavações na região da Serra da Galga, formação de Peirópolis, um dos primeiros sítios paleontológicos do Brasil. Além dos fósseis de dinossauros, também já foram encontrados fósseis de crocodilos e outros répteis na área, alguns registros datados de 80 a 65 milhões de anos.
Quando novos fósseis são encontrados, os pesquisadores fazem um trabalho de comparação entre os distintos conhecimentos e animais da região. “Nós tentamos comparar com outros fósseis da região; se não tiver um fóssil parecido, comparamos com animais que sejam parecidos em outras partes do mundo para tentar ver se é uma espécie que já é conhecida ou se é uma espécie nova. Depois de realizar essa comparação, nós afunilamos e tentamos ver quais informações dá para tirar”, explica Julian.
A descoberta desses dentes, em específico, também ajuda a entender a fauna e flora do local na época desses titanossauros. “Sabemos que o ambiente conseguia suportar dinossauros gigantes, então temos a ideia de que o ambiente tinha uma vegetação que conseguia suportar desde o filhotinho até os indivíduos grandes. Assim, dá para tentar montar como era o ambiente na época que esses dinossauros estavam vivos, sobre como eles se comportavam, analisando esses dentes.”
Mais informações: e-mail juliancristiangoncalves@gmail.com, com Julian Silva Júnior
*Estagiária, sob orientação de Fabiana Mariz e Valéria Dias
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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