Até o momento foram observados os primeiros 15 graus quadrados (unidade de medida do céu adotada pelos astrônomos) do mapa com todos os 56 filtros do J-PAS, o equivalente à área de 60 Luas cheias. Apesar disso ser apenas o início, esses dados já trazem informações sobre um milhão de estrelas e galáxias, a maioria delas nunca antes observada com esse nível de detalhe. “A JPCam, juntamente com o maior sistema de filtros de baixa largura em existência, são um exemplar único no mundo, provendo um espectro de cada ponto da câmera de qualquer objeto, seja ele uma galáxia no início do Universo ou um asteroide próximo à Terra”, explica Renato Dupke, pesquisador do ON e diretor científico do projeto J-PAS. “Isso dá ao projeto não só a capacidade de fazer estudos cosmológicos de ponta, mas também um legado que permite fazer estudos de ponta em basicamente todas as áreas da astronomia.”
Devido ao seu grande campo de visão, cada imagem da JPCam ocupa 1 GB de dados, aproximadamente, sendo que em uma única noite pode-se efetuar centenas de imagens. Esse grande volume de dados gerados pelo J-PAS exige um centro de processamento de dados dedicado à armazenagem, gestão e tratamento dos dados do levantamento. Para o Dr. Héctor Vázquez, responsável pelo Departamento de Processamento e Arquivos de Dados do CEFCA, “o início da tomada de dados do J-PAS é um momento muito especial, pois estamos aplicando o nosso conhecimento e a experiência multidisciplinar de outros mapeamentos anteriores para garantir tanto a eficiência das observações astronômicas como o processamento adequado da quantidade gigante de imagens que elas geram.”
Visão única do Universo
O J-PAS é um projeto que deixará um legado para a comunidade científica internacional por meio de uma visão única do Universo. Seja pelas novas informações, seja pela quantidade desses dados, que cobrirão centenas de milhões de objetos observados, o J-PAS abre novas oportunidades de pesquisa em quase todos os campos da astrofísica e da cosmologia.
Essa ideia é reforçada pelo professor Laerte Sodré Junior, do IAG. “O J-PAS ilustra bem o tempo entre a concepção de um projeto científico e seu início. Começamos a pensar no que viria a ser o J-PAS em 2009, e apenas 14 anos mais tarde ele começa a produzir os dados que queremos obter. Foi o trabalho incessante de cientistas e engenheiros, no Brasil e na Espanha, ao longo de todo esse período, que tornou isso possível”, avalia. “Agora os dados coletados pelo telescópio vão nos ajudar a saciar nossa curiosidade científica, ajudando a responder a inúmeras perguntas sobre o cosmos. E na verdade continuarão a fazer isso por muito tempo, representando mesmo um legado para as gerações futuras”, completa.
“A história da astronomia nos ensina que os grandes mapas astronômicos realizados no passado marcaram o antes e o depois do nosso conhecimento sobre o cosmos”, lembra Carlos López San Juan, subdiretor científico do CEFCA. “O J-PAS será o maior e mais preciso mapa fotométrico multicores com capacidade para proporcionar informação espectral [das emissões de radiação e luz] de qualquer região do Universo. E, como tal, aspira a se converter em uma referência para a astronomia do século 21.”
As perspectivas para o Brasil no contexto da colaboração são bastante animadoras, segundo o professor Raul Abramo, do Instituto de Física (IF) da USP. “O J-PAS está permitindo a participação e liderança de cientistas brasileiros num dos maiores e mais inovadores mapas do Universo da atualidade. A partir de hoje teremos inúmeras oportunidades para novas descobertas e aplicações desses dados, seja por pesquisadores sêniores, estudantes de pós-graduação e mesmo estudantes de graduação”, observa. “Desse modo, o J-PAS está alavancando o desenvolvimento de uma geração de astrônomos e físicos que trabalham na fronteira do conhecimento sobre a energia escura e a origem das galáxias e das estruturas cósmicas.” A participação brasileira no projeto J-PAS recebe apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Mais informações: e-mail raulabramo@usp.br, com o professor Raul Abramo
*Assessoria de Comunicação do Instituto de Física (IF) da USP, com edição de Júlio Bernardes
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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