Redação, Linha 8.
A estadunidense Claudia Goldin tem 77 anos. Especialista em história econômica também leciona na Universidade de Harvard onde no departamento de economia foi, em 1989, a primeira mulher a ter um cargo efetivo.
Ela estudou nada menos que 200 anos de dados, nos EUA, sobre ocupação de postos de trabalho e cruzou essas informações com análises do desenvolvimento da indústria, perfil do mercado de trabalho e direitos sociais. Trouxe assim uma robusta contribuição para a compreensão das desigualdades entre homens e mulheres.
Em 2023, ela se tornou a primeira mulher a ganhar um Nobel de Economia sozinha, ou seja, sem dividir o prêmio com um homem. Nada mais simbólico.
E qual a conclusão do laureado estudo? Pasmem, senhoras e senhores. O que os dados mostram é que o machismo nas relações sociais tem interferência direta nas diferenças salarias entre os gêneros. E como isso acontece? Uma das principais causas é…. o cuidado com os filhos!! Tarefa quase que exclusiva de mulheres nos últimos dois séculos.
Há outros aspectos que sustentam o quadro de desigualdade ao longo do tempo. Leis que não garantiam direitos sociais, menos tempo de estudo, falta de direitos políticos e uma sólida cultura patriarcal que impedia a mulher de sair do ambiente privado, do papel de cuidadora. Porém, nos dias atuais, mesmo que muitos países garantam direitos sociais e políticos ou apresentem maior taxa de escolaridade entre mulheres, a desigualdade salarial permanece firme.
Um importante fator levantado por Goldin é que o modelo predominante no mercado de trabalho é exaustivo, exigindo muitas vezes dedicação exclusiva. Jornadas extensas, horas extras, poucos dias de descanso e claro muita competitividade. Nos postos de direção essas características se intensificam.
A chegada do primeiro filho faz a mulher dar um passo atrás na carreira profissional, inclusive em países com proteções e garantias legais ou até mesmo com maior divisão de trabalho doméstico.
Não é exatamente que Claudia Goldin tenha feito grandes descobertas. O machismo é denunciado e combatido há longos tempos por movimentos feministas, socialistas e sindicatos, usando inclusive argumentos iguais. Porém, o estudo detalhado com comprovações estatísticas e numéricas inseridas no contexto capitalista dos últimos dois séculos coloca mais um importante tijolo na luta pela igualdade entre homens e mulheres.
Outro mito é abatido pelas conclusões da Nobel de Economia, a meritocracia.
Ao demonstrar que mulheres não conseguem atingir níveis salariais de homens – mesmo com mais estudos, mais qualificação e leis nesse sentido – o estudo desmonta argumentos que negam a necessidade de políticas públicas, ações afirmativas e compensações que contribuam para nivelar tamanhos desequilíbrios.
Fica evidente que na verdade o debate não é sobre mérito, mas sim, sobre a manutenção de privilégios estruturados em um modelo de sociedade e tradições que favorece e beneficia poucos grupos.
Abordagens como a da pesquisadora produzem um interessante desdobramento, faz sobrar para negacionistas e conservadores apenas a companhia de discursos tradicionalistas e moralistas ou ainda o último recurso dos desesperados: o apelo as causas divinas.
O Prêmio Nobel de Economia existe desde 1969. Noventa e três pessoas já o ganharam.
90 homens e 3 mulheres.
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